Revista do Imóvel
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Qual a parede a ser removida?
Derrubar paredes tem sido um recurso muito usado para remodelar imóveis e criar espaços mais amplos, mas é preciso tomar alguns cuidados antes de começar a obra para garantir que tudo seja feito de maneira segura e sem causar problemas estruturais no prédio. Segundo especialistas, a tarefa não é impossível, mas cada caso depende da avaliação e acompanhamento por um profissional de engenharia.
De acordo com Paulo Helene, professor de área de patologia das construções da Poli-USP, a tecnologia de construção mais usada atualmente, conhecida como estrutura reticulada, começou a ser usada no Brasil na primeira década dos anos 1900.
Quando as paredes são estruturais.
É comum encontrar prédios baixos ou antigos cujas paredes fazem parte da estrutura da construção. Flávio Braga explica que essas são construções de alvenaria estrutural, onde as paredes fazem o papel de pilares, ou seja, são elas que suportam o peso do prédio. "Nestes casos, as paredes não podem ser retiradas", alerta o engenheiro. O vice-presidente do IBAPE-SP, Flávio Figueiredo, completa que os proprietários desses imóveis são informados na hora da compra sobre a impossibilidade de remover paredes. Além disso, a informação também consta no manual que recebem.
Paulo Helene comenta que a construção em alvenaria estrutural é uma técnica milenar e que atualmente apenas uma pequena minoria das edificações são feitas seguindo esse padrão.



A importância de consultar as plantas.
O professor da USP destaca também que atualmente a maioria dos prédios tem formato retangular e não quadrado. Segundo ele, as paredes que estão na direção menor são mais importantes para o equilíbrio da construção, por isso não é indicado removê-las.
Após a aplicação dos revestimentos nos imóveis não é possível distinguir paredes e colunas. Fábio Luís Garbossa, diretor de operações e engenharia da construtora BKO, comenta que a consulta de plantas e projetos é fundamental para a identificação dos elementos estruturais.
Neste tipo de estrutura, os prédios são construídos em concreto armado, formando um esqueleto de lajes, colunas e vigas, que posteriormente recebem paredes.
O engenheiro civil Flávio Figueiredo, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo, IBAPE, explica que teoricamente as paredes de alvenaria de fechamento, também chamadas de paredes de vedação, podem ser derrubadas, pois não são elementos estruturais de um edifício. São as colunas, vigas e lajes os responsáveis pela sustentação e distribuição do peso do conjunto da construção. No entanto, Paulo e Flávio alertam que não é raro quando essas paredes, ao longo do tempo, acabam assumindo funções estruturais na sustentação do prédio. "Isso ainda é de certa forma desconhecido até no meio técnico", ressalta Flávio.
Neste caso, somente um engenheiro tem capacidade para avaliar a situação, pois apenas o comportamento da parede e dos elementos ao seu redor durante a derrubada vai demonstrar se houve essa reorganização estrutural. O vice-presidente do IBAPE explica que uma prática segura é remover a parede por partes, e não por completo de uma vez só. Dessa forma o engenheiro pode avaliar o comportamento da construção a cada etapa e suspender a remoção caso seja necessário.
Paulo Helene ressalta que em prédios construídos até 1970, quando não havia tanto conhecimento como hoje em relação ao comportamento dos materiais e estruturas, é provável que muitas das paredes, mesmo de construções reticuladas, estejam ajudando na sustentação da estrutura do edifício.
"Em prédios novos é muito usual a construtora entregar um manual do proprietário onde constam todas as especificações técnicas e plantas mostrando exatamente onde estão as peças estruturais e onde estão as paredes de vedação. Em prédios mais antigos, caso não se encontre a planta, pode-se pedir na prefeitura uma cópia ou contratar um projetista para fazer uma nova para consulta do proprietário", menciona Fábio Luís Garbossa.
Mesmo as paredes que podem ser derrubadas costumam ter embutidas nelas cabos de fiação elétrica e tubulação hidráulica, o que também pode ser verificado na consulta dos projetos da construção. "Nos de elétrica, deve-se verificar se o ponto a ser eliminado, seja de elétrica, TV ou telefone, alimenta outro na sequência. Se for, a eliminação cortará a alimentação dos outros. Com relação aos tubos de hidráulica, se for um tubo que percorre o prédio de cima à baixo, conhecida como prumada, não será possível eliminá-lo. Se for um ramal de água ou esgoto, as modificações necessárias para a eliminação ou alteração deverão ser analisadas por um profissional competente", afirma Flávio Braga, engenheiro civil e diretor técnico da Marques Construtora.
Flávio Figueiredo afirma que não apenas a derrubada de colunas e vigas coloca em risco a segurança dos edifícios, mas também a prática de diminuir o tamanho delas, mesmo que em centímetros. "Elementos de concreto não podem ser derrubados nem desmatados, ou seja, não se pode nem tirar uma casquinha dele para encaixar uma porta, por exemplo", adverte.
Ele menciona também que em prédios desse tipo não é indicado trocar portas de lugar ou abrir novas, nem mudar o tamanho e localização das janelas.
Tanto em prédio de alvenaria estrutural quanto reticulados, alterações que envolvem derrubar paredes ou remodelar portas e janelas precisam ser previamente avaliadas por engenheiros especialistas em cálculo estrutural ou que tenham experiência em obras de reforma e retrofit, como é conhecida a remodelação de prédios atualmente. "Assim como sem advogados não há lei, sem engenheiro não há segurança", afirma Paulo Helene.